Dia Nacional da Consciência Negra - 20.11.2012
A Irmandade
de São Benedito homenageia seu grande irmão Juiz “Major Quintino de Lacerda”, sepultado em nosso Jazigo na
data de 10.08.1898. Os restos mortais encontram-se depositados em nosso Jazigo,
junto com os despojos de sua esposa a Irmã Maria Isidora de Souza e sua filha
Alzira Lacerda Gutierrez.
Quintino de Lacerda foi
admitido em nossa Irmandade em 16.08.1886, conforme registro em nossos livros.
Imagem 1 - casa onde morou Quintino
de Lacerda
Imagem 2 – “barracos de Quintino”
no quilombo do Jabaquara em Santos/SP
Breve
historiografia de Quintino de Lacerda:
Chefe do Quilombo do Jabaquara e
primeiro líder político negro de Santos. Nascido em 08 de junho de 1839 em
Sergipe, Quintino de Lacerda, foi o mais atuante agitador da abolição no
litoral Paulista, garantindo abrigo a escravos fugitivos de toda a região do
planalto, que aqui buscavam defesa.
O Quilombo do Jabaquara, na descrição
de Silva Jardim, era verdadeiramente inexpugnável, defendido pelas encosta do
morro do Jabaquara e com um único caminho de acesso permanentemente guardados
pôr sentinelas de Quintino.
Em 1850 haviam 3.189 escravos em
Santos, para uma população livre de 3.956 habitantes.
Não deixa de ser surpreendente que
quinze anos depois já existia uma forte resistência organizada e que três meses
antes da abolição do instituto da escravidão no Brasil, em Santos já não
houvesse escravos. Tanto que dia 13 de maio de 1888 seguiram-se oito dias de
festa populares, comícios, passeatas músicas e dança nas ruas.
Quintino de Lacerda, foi o centro das
atenções e chegou a receber, em solenidade pública, um relógio de ouro, como um
homenagem popular a seu mais querido líder abolicionista.
Com a abolição, o irrequieto Quintino
lança-se à luta política, incorporando, pela primeira vez, os negros ao
processo político na cidade. Organiza e comanda um batalhão na defesa contra
uma possível invasão de tropas rebeldes interessadas em depor o Marechal
Floriano Peixoto. Recebe, em reconhecimento, o título de Major Honorário da
Guarda Nacional, em 1893.
Sua eleição para a Câmara municipal,
em 1895, porém, faz eclodir uma grande crise política fomentada pêlos setores
racista. Ela começa com a negação de sua posse como vereador.
A batalha judicial que se segue,
chega aos tribunais paulistanos, e termina com a vitória de Quintino. Prevendo
o desfecho em favor do líder negro, o presidente da Câmara, Manoel Maria
Tourinho, renunciou ao mandato, seguido pelo vereador Alberto Veiga. O novo
presidente José André do Sacramento Macuco, foi obrigado a empossar Quintino,
mas renunciou também ao mandato, em seguida, declarando-se "enojado com o
que via", segundo Francisco Martins dos Santos ("Histórias de
Santos").
Registra o mesmo Historiador que
apenas um dos inimigos de Quintino permaneceu na Câmara, embora passasse a não
mais comparecer às sessões, Olímpio Lima, diretor do jornal "A Tribuna do
Povo".
As atividades da Câmara foram
suspensas até 1º de junho, quando voltou a funcionar, sob a presidência
interina do próprio Quintino.
No dia 9, os cargos vagos são
preenchidos e, a 16, com base na Lei Eleitoral e devido às ausências em
plenário, Quintino propõe e obtém, pôr unanimidade, a cassação de Olímpio Lima.
O Jornalista, inconformado, voltou à Câmara a 12 de julho, tão logo foi
empossado o novo presidente, Antônio Vieira de Figueiredo, mas foi solicitado a
retirar-se, já que seu mandato fora cassado. Lima iniciou uma série violenta de
ataques contra Quintino em seu jornal, e à própria Câmara, num processo que
culminaria, pôr fim, com a revogação da Constituição Municipal autônoma, que
fora em 15 de novembro de 1894 e durou menos de um ano.
Quintino de Lacerda morreu em 10 de
agosto de 1898, deixando três filhos menores. Seu enterro foi acompanhado pôr
um grande número de pessoas, um testemunho do reconhecimento de sua importância
histórica.
Fonte: Historiadora de Santos: Wilma Therezinha Fernandes de Andrade, parte
do TCC - trabalho de Conclusão de Curso
de Licenciatura Plena em História, Faculdade de Filosofia Ciências
e Letras de Santos da Universidade Católica de Santos, autora: Márcia Campelo.
Publicado no Diário Oficial do Município de Santos
em 09 de julho de 1989.